sexta-feira, 25 de junho de 2010

Parece, mas não é o Haiti. É Pernambuco mesmo

Milhares de desabrigados, centenas de casas destruídas, dezenas de mortos e um drama: cidades inteiras arrasadas pelas chuvas







Os números da tragédia no Nordeste assustam. São quase 80 mil pessoas sem casa em 59 cidades, algumas delas praticamente destruídas. As pessoas vagam com máscaras nos rostos, sem ter para onde ir, com sede e com fome.




São centenas espalhadas pelas cidades devastadas da Mata Sul de Pernambuco. O cheiro fétido é o cartão de visitas para quem chega a Palmares e a Barreiros numa mistura de animais mortos em decomposição, lama, lixo e esgoto.



As cenas da devastação em Palmares são chocantes. A cidade está de cabeça para baixo. Não há energia elétrica. A ponte na BR-101, na estrada da cidade, caiu. A água simplesmente afundou a praça da igreja, no centro, e tombou um dos caminhões estacionados.



Numa das casas, a água jogou uma árvore de quase três metros para a janela do 1º andar. Em outras, a força da correnteza arrastou o lixo para os pavimentos superiores das casas, a maioria delas coberta pela água.



No isolado Engenho Diamantes, a adutora que abastecia Palmares foi totalmente danificada. 60 famílias que moravam no local foram alocadas para um colégio. O comércio da cidade está um caos. A feira cessou. Os negociantes perderam toda a mercadoria. Os que ainda possuem algum dinheiro não têm como e onde gastar.




Várias congregações evangélicas foram danificadas. A igreja onde o pastor José Leôncio, ex-presidente da Assembleia de Deus do Estado, aceitou a Jesus desabou.




Em Barreiros, a destruição causada pelas chuvas não difere das demais cidades. Há pessoas que não tomam um banho há cinco dias devido à falta de água no município. Não dá para diferenciar as ruas do curso do rio por causa da grande quantidade de lama espalhada pela cidade.




Das 12 congregações da Assembleia de Deus em Barreiros, 10 foram afetadas pelas chuvas. O novo templo matriz seria inaugurado neste domingo, 27. Agora, é impossível. As caldeiras acolchoadas, por exemplo, estão completamente destruídas. A água atingiu 80 cm do templo.




As pessoas clamam e reclamam pela falta d’água. Têm medo dos saques. Desesperam-se pela falta de comida. Almoço, quando milagrosamente tem, costuma chegar às quatro horas da tarde.





Serão necessários dois meses só para limpar cada cidade. O mau cheiro é insuportável. A situação é de calamidade. Crianças choram espalhadas pelos corredores, no chão. As pessoas, desoladas, aparentam esperar pela morte, olhando para o nada, mas com um fio de esperança de um novo recomeço.





Elas não sabem sequer onde ficavam suas casas. Não há como localizar nem os pontos de referência. O rio levou tudo. O cheiro podre é uma suspeita de que há pessoas mortas embaixo daqueles escombros.




E os indícios são fortes. Até agora, são 17 pessoas mortas, mas os números são imprecisos, já que o cenário de destruição dessas cidades impede que haja uma afirmação quanto à quantidade exata de mortes. Tanto é que cães farejadores que ajudaram na tragédia do Haiti irão para as cidades atingidas para localizar possíveis corpos.




Mas há muito para ser feito. As cidades precisarão ser reconstruídas totalmente. Ricos dividem a mesma comida com os pobres. Pessoas que, num dia, tinham comércio, agora catam o que comer no meio do lixo.

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